O Legado Dos Genes
Sobre o processo de envelhecimento humano

Livro
detalha o que a ciência pode nos ensinar sobre o envelhecimento
Em “O
legado dos genes”, Mayana Zatz e Martha San Juan França desvendam os segredos
da longevidade
27/07/2021
Festejada e desejada, a longevidade
ainda guarda mistérios: por que há pessoas que mantêm a agilidade física e
mental mesmo depois dos 80 anos? Esse é o fio condutor do livro “O legado dos
genes: o que a ciência pode nos ensinar sobre o envelhecimento”, assinado pela
premiada geneticista Mayana Zatz, professora titular do Instituto de
Biociências da USP e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e
Células-Tronco, e pela jornalista Martha San Juan França.
As
explicações vão além da herança genética que carregamos, é o que detalha a
obra, por isso é tão importante que, além do engajamento de cada um para adotar
um estilo de vida saudável, também tenhamos políticas públicas comprometidas
com a longevidade. A doutora Mayana está à frente do Projeto 80+, que coleta
DNA de voluntários dessa faixa etária. O banco de dados foi criado para servir
como base de comparação para a genética dos idosos brasileiros e ganha mais
relevância considerando que muitos sobreviveram ao pesadelo da pandemia.
No
longo prazo, será possível identificar mutações que favorecem o envelhecimento
saudável, com a vantagem de termos informações de indivíduos brasileiros. Ali
são desenvolvidos testes capazes de analisar, simultaneamente, 6.300 genes
responsáveis por doenças genéticas raras. Há ainda pesquisas de ponta em
promessas da medicina, como os xenotransplantes (transplantes de órgão, tecidos
ou células modificados de suínos para humanos), bioengenharia (reprogramação de
células), edição de genes e terapia gênica.
Até
setembro de 2020, o Centro de Estudos do Genoma Humano já havia sequenciado o
genoma de 1.171 idosos – trata-se da maior amostra de brasileiros. “Queremos
entender como funcionam os neurônios, as células musculares, as células de
vasos sanguíneos em pessoas que se mantêm fisicamente saudáveis após os 90
anos. Saber os mecanismos que as protegem dos aspectos físicos do
envelhecimento poderá abrir caminho para novos tratamentos que beneficiem a
todos”, diz a doutora Mayana Zatz.
Utilizando
uma linguagem acessível, o livro explica como o envelhecimento começa nas
células: elas estão sempre se dividindo, e a cada divisão todo o genoma é
duplicado (replicado), e os genes transmitidos para as gerações seguintes devem
ser idênticos às versões anteriores. No entanto, as células estão sujeitas às
agressões do meio ambiente e podem ocorrer falhas no momento da replicação
celular que não são reparadas e vão se acumulando com o tempo. Outro problema
são os radicais livres, moléculas altamente reativas produzidas pelo
metabolismo celular durante o processo de queima do oxigênio utilizado para
converter os nutrientes em energia. As pesquisas voltadas para a
biogerontologia têm o objetivo de descobrir formas de evitar, ou pelo menos
adiar, a ocorrência desses danos nas células.
Um
dos trechos mais interessantes mostra como o cérebro do idoso compensa a
redução de células nervosas relacionadas à idade formando novas conexões entre
as células remanescentes. Entretanto, para mantê-lo “afiado”, é preciso
exercitá-lo continuamente: esse conceito embasa o que os neurocientistas chamam
de reserva cognitiva, que é a capacidade do cérebro de armazenar as habilidades
adquiridas ao longo da vida. O livro também enfatiza a importância da atividade
física e de se ter sempre um propósito na vida – assuntos sobre os quais o blog
não se cansa de abordar desde 2016.
Sobre o
processo de envelhecimento humano RJ - Rio de Janeiro
Mariza
Tavares
Jornalista,
mestre em comunicação pela UFRJ e professora da PUC-RIO, Mariza escreve sobre
como buscar uma maturidade prazerosa e cheia de vitalidade.